A febre dos haute burgers em Nova Iorque

Junho 2011

Tem muita gente que alimenta a maior implicância com lugares que repaginam ícones da junk food, colocando-os, digamos, em roupa de festa. Quanta reclamação ouvi nos últimos anos por causa da enfeitada de pavão que Daniel Boulud deu no velho e bom hambúrguer no seu DB Bistro Moderne... Confesso que esse tipo de questão, guardadas certas ressalvas, não costuma me afligir. Adoro, por exemplo, comer o hot dog da carrocinha da esquina ou depositar minha felicidade no eterno favorito Gray’s Papaya, mas não me incomoda nem um pouco ver o sanduíche passar por uma adaptação, desde que por mãos que conduzam o processo com um mínimo de sabedoria. Se prevalecer o bom senso na escolha de ingredientes, se não houver a pretensão de transformar a comida em algo que ela não queira ser, enfim, se o resultado for bom, pra mim, tá valendo.

Nessa passagem por Nova Iorque, eu tinha na minha lista pelo menos três nomes que, nos últimos anos, têm feito a alegria da turma que não se incomoda em ver um bom hambúrguer ir além do trivial. Fui conferir um a um. Até pra ver se valem quanto custam – afinal, o banho de loja garante contas alguns dólares mais gordas que a de qualquer lanchonete de bairro...

No DBGB, a julgar pela noite em que estive lá, eu diria que não vale não. A casa de Daniel Boulud tem charme pra dar e vender e é sucesso absoluto de público. Mas, à exceção de uma ótima entrada que abriu brilhantemente o meu jantar, tudo mais se revelaria apenas mediano, sempre um tom abaixo do esperado. Com meu Piggie Burger não foi diferente. O sabor esperado do hambúrguer feito com carne de porco desfiada (após longa cocção a baixa temperatura) ficou na promessa...

Já no Breslin, da chef April Bloomfield, como contei aqui alguns posts atrás, comi, entre outras maravilhas, um dos melhores hambúrgueres da minha vida (esse aí em cima, na foto que abre o post). A carne de cordeiro, rosada e saborosa, com um toque de cominho, veio coroada por rodelas de cebola e uma fatia de queijo feta apenas. Tudo dentro de um pão rústico dos melhores. E na companhia de batatas fritas fabulosas. Não é à toa que a moça já foi chamada de burger queen...

Tão bom quanto o burger de Bloomfield - ou até melhor - foi o que comi no Minetta Tavern. O lugar me ganhou de cara. Keith McNally é mestre em recriar ambientes vintage sem soarem falsos. No Minetta, a meia luz, as fotos em preto e branco, as caricaturas e as paredes cobertas por ilustrações esmaecidas dão o tom. Não me espantaria se um incauto acreditasse ser ainda a mesma taverna que lá esteve sessenta, setenta anos antes e em cujos balcões bebeu gente do naipe de Ernest Hemingway.

Mas não foi só no ambiente que a casa me ganhou. Sua cozinha impõe respeito. Como não estávamos ali pra brincadeira, começamos com uma porção de tutano de boi, que era coisa pra gente grande. Só ela já nos bastaria...

...mas era preciso provar o famigerado Black Label Burger, feito com dry-aged beef. Nada distraía a atenção do colossal sabor daquela carne, que estava no ponto perfeito e encontrava um sutil – e feliz – acréscimo na doçura das cebolas caramelizadas. Barato não foi, mas valeu cada centavo.

 

DBGB – 299 Bowery (entre Houston e 1st street)
http:/www.danielnyc.com/dbgb.html

The Breslin - 16 west 29th street (entre Broadway e Fifth Avenue) – no lobby do Ace Hotel
http:/thebreslin.com/

Minetta Tavern – 113 MacDougal street (entre Bleecker e 3rd street)
http:/www.minettatavernny.com/

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