Nestes mais de sete anos de blog, acompanhando idas e vindas no cenário da restauração no Rio de Janeiro, tenho aprendido a lidar com a espera antes de emitir opinião sobre um novo lugar. Salvo algumas notáveis exceções, estabelecimentos estreantes costumam claudicar, precisam de tempo pra amadurecer. Não há nada de extraordinário nisso. Extraordinária é a exaltação que prematuramente os cerca. Na cena carioca, é comum uma nova casa ser contemplada com relatos extremamente elogiosos antes mesmo de ganhar consistência. Não raro, começa a arrebatar prêmios quando ainda nem teve oportunidade de merecê-los. Não há quem me convença de que isso não seja prejudicial a seu amadurecimento.
Por que trago essa reflexão à baila? Porque fui tomada por ela nas três visitas que fiz ao (já premiado) Puro desde sua abertura, seis meses atrás. Em todas elas, tive a impressão de estar diante de uma das mais interessantes entre as recentes inaugurações na cidade. O cardápio idealizado pelo chef Pedro Siqueira é bem resolvido e, de modo geral, permeado por uma noção de brasilidade que não chafurda no óbvio. Mas, como é de se esperar nos primeiros meses de vida de um restaurante, sente-se que ainda há muito a lapidar.
Minhas refeições ali foram sempre marcadas por altos e baixos. A favor da casa, devo dizer que os pratos quase sempre estiveram saborosos. Se vi boas ideias traduzidas em receitas bem executadas, também testemunhei deslizes. Eu diria que ainda há um ajuste fino a ser feito, de modo que se alcance mais equilíbrio e sutileza no resultado.
Da seleção de entradas, experimentei três. Ótimo pão de queijo com pernil. Bolinhos de arroz de carreteiro, que podiam estar menos gordurosos, mais crocantes. E moela de pato confitada com cebola caramelizada, uma das melhores coisas que comi ali. Perfeita em sabor e textura, tinha a providencial companhia de fatias de brioche pra secar o molho. Voltei a ela meses depois e não encontrei exatamente o mesmo brilho, mas, ainda assim, estava muito boa.
Entre os principais, o que mais me entusiasmou foi o matambre com abóbora caramelada e farofa de erva-mate, que evidencia as raízes do chef. Carne tenra, deliciosa. A abóbora assada seria um belo acompanhamento, não fosse o fato de estar excessivamente doce. Revisitei o prato em outra ocasião. Carne igualmente impecável; abóbora menos doce, porém ainda além do ideal.
A sublinhar que a cozinha lida bem com carnes, houve também um suculento filé de costela com farofa de milho e legumes tostados. Os vegetais (cebola roxa, aspargo, vagem, ervilha) eram muito saborosos, mas podiam ter menos gordura.
Do almoço executivo – que, apesar de ter preço convidativo, me parece oferecer um repertório menos interessante que o do cardápio fixo –, provei os “fettuccine à carbonara caipira”. Pedaços grandes de carne de porco roubavam delicadeza ao prato, que em nada me lembrou um bom carbonara.
Quanto às sobremesas, as três que experimentei estiveram aquém da cozinha salgada.
“Torta quebrada de maçã” (também do executivo): nacos de biscoito, delicadas lâminas de maçã e um creme que não tinha sinal algum de baunilha – o que não seria um problema se o ingrediente não tivesse sido mencionado pelo garçom.
Creme gelado de limão com farofa de cuca. Embora não estivesse mau, não chegava a ser bom.
Gostoso doce de abóbora, com bem-vindo frescor de raspas de limão, comprometido, porém, pelo sorvete de tapioca, cuja textura não era boa.
Em todas as visitas, tive vontade de voltar e acompanhar a evolução do Puro. Prevalece a sensação de que talvez seja só questão de tempo e empenho até que se alinhe a execução ao conceito. Tomara que a euforia da mídia, ávida por novidade, não convença o chef de que vale a pena pegar atalhos.
Puro Restaurante – Rua Visconde de Carandaí 43 - Jardim Botânico.
http://www.purorestaurante.com.br/