Gosto de hambúrguer. Minto. Não é que eu goste apenas. Eu adoro um bom hambúrguer. Mas sentia certa dificuldade em encontrar bons exemplares no Rio de Janeiro. De uns tempos pra cá, felizmente, tenho tido boas surpresas.
A primeira delas aconteceu no Irajá, no ano passado. O Irajá burger é, sem dúvida, um dos melhores que comi na cidade ultimamente: carne mal passada, gostoso confit de cebola, ótimo pão. Chega acompanhado de batatas fritas de verdade, é importante dizer.
Recentemente, outra boa novidade: o gostoso MCPipo, miniatura do sanduíche, prova que tamanho não é documento. Em cartaz no Pipo, o novo restaurante de Felipe Bronze, traz pão de milho, ótimo hambúrguer, queijo Canastra, picles de maxixe e ketchup de goiaba.
Desde julho, mais um ganho pros cariocas: o famoso Sudburguer, que fazia aparições eventuais no restaurante da chef Roberta Sudbrack, ganhou dia fixo no cardápio. Toda quarta-feira, o sanduíche entra em cena, como opção ao menu do dia. O hambúrguer suculento, em ponto perfeito, chega acomodado num tremendo pão, feito na casa. No mais, apenas um tantinho de parmigiano, folhas de rúcula e pedacinhos de tomate.
A questão é que exemplares como estes, embora tenham trazido alento aos apreciadores do sanduíche, não resolvem o problema de quem lida com uma vontade bem específica: a de matar a fome, não com um hambúrguer “gourmet”, mas com um bom hambúrguer pura e simplesmente. Uma vontade que, quando nos assalta, nem sempre vem acompanhada do desejo de fazer disso o programa de uma noite inteira ou da disposição de pagar por ele R$50,00, R$60,00. Essa, quando bate, só se resolve em uma boa hamburgueria. Coisa difícil no Rio de Janeiro.
A recente inauguração da T.T. Burger, nova empreitada de Thomas Troisgros, renovou minha esperança de ver a cidade, finalmente, ganhar uma hamburgueria verdadeiramente boa. Estive lá duas vezes nessas duas primeiras semanas de vida e me parece que ainda há ajustes a fazer. O público faminto por seus hambúrgueres esteve muito acima do esperado nesse começo e, naturalmente, as coisas acabaram fugindo ao controle do chef. Mas vejo o lugar como uma boa promessa. E acredito que seja só questão de tempo até que as ótimas ideias por trás do projeto se concretizem inteiramente.
O conceito tem assumida inspiração em alguns casos de sucesso fora do Brasil, como o americano Shake Shack. Mas Thomas optou por fazer algo seu e nisso está um dos grandes méritos do sanduíche que ele tem vendido às centenas no novo endereço: um hambúrguer com sotaque brasileiro.
A T.T. é samba de uma nota só: há somente uma opção no cardápio, admitindo variações apenas pela exclusão ou troca de alguns componentes do sanduíche. Menos pode ser mais e é nisso que Thomas está apostando. A carne é um blend de acém, fraldinha e contrafilé, com gordura de picanha. O pão é de batata doce. No lugar da habitual conserva de pepino, picles de chuchu. O queijo até pode ser gorgonzola, mas a graça é pedir como o chef concebeu: com queijo meia-cura do Sítio Solidão. Fora isso, alface, tomate, cebola e um molho que, além de maionese, ele não revela ao certo o que leva. Nas mesas, há ainda um gostoso ketchup de goiaba.
Experimentei o hambúrguer pela primeira vez meses atrás, quando ainda estavam em fase de testes da receita. Achei muito gostoso. Muito mesmo. Melhor inclusive do que os exemplares que comi recentemente, nas duas visitas à casa depois de inaugurada.
Na primeira delas, achei o molho excessivamente doce. E a cozinha não acertou o ponto da carne: pedi mal passada, veio bem passada. Na segunda vez, uma semana depois, ficou claro que trabalhavam com números acima do planejado. Era longa a espera. Até briga na fila havia. A equipe admitia estar vendendo mais do dobro do que esperava vender. Resultado: não se pode mais escolher o ponto da carne. É o ponto da casa. Gosto da carne mais vermelha do que o ponto em que veio nessa segunda vez, mas, ainda assim, era perceptível que o hambúrguer estava melhor do que o da visita anterior. O sanduíche veio meio feio, bagunçado, sem muito equilíbrio na quantidade de ingredientes, mas muito mais saboroso. Quanto ao molho, agora menos doce, estava mais gostoso.
As batatas chips da casa, sua versão dos salt and vinegar chips, estavam ótimas nos dois dias.
Acredito que o único ingrediente de que a T.T. Burger ainda precisa é tempo. Pra reavaliar expectativas, aparar arestas e fazer a engrenagem funcionar à altura do conceito tão bem construído.
Irajá – Rua Conde de Irajá 109 – Botafogo
Pipo – Rua Dias Ferreira 64 – Leblon
Roberta Sudbrack – Av. Lineu de Paula Machado, 916 - Jardim Botânico
T.T. Burger – Rua Francisco Otaviano 67 - Arpoador