Dia desses, cruzava a rua Dias Ferreira voltando pra casa, trazendo comigo o cansaço de uma semana corrida, quando topei com a tímida portinha da nova loja da Bel Trufas. A inauguração havia acontecido exatamente uma semana antes. Entrei. Enquanto admirava as lindas prateleiras da loja, ouvi a pergunta de uma cliente, que me soou como uma senha: “tem cookies?” Olhei pro balcão e não vi nenhum. Então, fiquei atenta à resposta, que veio com um simples movimento de cabeça, insinuando que sim. Imediatamente me candidatei aos poucos que ainda havia “escondidos” nos fundos da loja. Comi-os ainda quentes e posso dizer que salvaram meu dia.

Experimentei também outras coisas, em especial, os chocolates – de umas trufas gostei mais, de outras gostei menos, mas eram todas marcadas pelo esmero e o frescor característicos do trabalho de Bel Carvalho. Mas foram mesmo os biscoitos que me fizeram voltar nos últimos dias. Apenas uma vez encontrei-os expostos no balcão; nas demais, foi sempre preciso usar a senha que aprendi na primeira visita.

Não vou dizer que são os melhores que já comi. Não são. Mas, em geral, são muito bons – especialmente quando a cozinheira não exagera no açúcar. Quando quentíssimos, recém-assados, são ótimos.

Talvez o leitor interessado em coisas mais complexas e sérias que uma porção de cookies esteja se perguntando por que dedico a eles um post, se nem mesmo são os melhores da minha vida... Bem, trata-se de algo imensamente subjetivo. O fato é que cookies recém-saídos do forno estão entre as coisas que mais me confortam. É um sentimento para o qual encontrei justa tradução na bela sequência final do filme “Mais Estranho que a Ficção”, que diz mais ou menos o seguinte:

“Assim que Harold deu uma mordida num biscoito de açúcar da Bavária, finalmente sentiu como se tudo fosse ficar bem. Quando nos perdemos em medo e desespero, em rotina e constância, em falta de esperança e drama, podemos agradecer a Deus por haver biscoitos de açúcar da Bavária. E, felizmente, quando não há biscoitos, ainda podemos encontrar segurança em um toque familiar na nossa pele ou em um gesto gentil, um sutil encorajamento, um abraço amoroso ou uma oferta de conforto. (...) Precisamos lembrar que todas essas coisas, as nuances, as anomalias, as sutilezas – que presumimos serem apenas acessórios dos nossos dias – estão aqui, de fato, por uma causa muito maior e mais nobre. Estão aqui para salvar nossas vidas. Sei que a ideia parece estranha, mas também sei que calha de ser uma grande verdade.”

Portanto, eu lhes confesso que, pra mim, é um alento saber que a três quadras da minha casa há um forno de onde saem alguns deles diariamente, prontos a me salvar de momentos de cansaço ou descrença.

Bel Trufas – Rua Dias Ferreira 521 – loja B - Leblon
http:/www.beltrufas.com.br/