Cheguei a Berlim sem grandes expectativas e com reserva em apenas um restaurante. Não tive tempo nem disposição pra planejar a viagem como gostaria. Talvez exatamente por isso tenham sido tão leves e felizes os dias que passei ali. O fato de não haver muitos planos engessando minha curta temporada na cidade abriu espaço pra algo que raramente me permito quando visito um lugar pela primeira vez: liberdade absoluta. Caminhar sem obrigações, descobrir a cidade ao sabor dos desejos do dia. A escolha de onde comer seria ditada pela geografia do roteiro
Obrigatório mesmo só o primeiro café pela manhã na The Barn Coffee Roasters – na companhia de pães de canela, cookies ou uma fatia de bolo de cenoura, todos ótimos.
Dependendo do rumo que tomássemos depois disso, havia ainda uma parada pra um delicioso apfel-zimt schnecke (pão de maçã com canela) na padaria Zeit Für Brot.
Na tarde de domingo no mercado de pulgas do Mauerpark, fizemos como os locais: nos acomodamos no biergarten pra saborear despretensiosamente uma porção de currywurst, sob a poética luz da transição entre verão e outono.
Se o dia nos levasse a um passeio no Tiergarten, ao fim do percurso, estávamos a uma breve caminhada da KaDeWe – que seria apenas mais uma entediante loja de departamentos, não fosse por seu maravilhoso food hall no último andar. A variedade de opções no balcão de salsichas e linguiças é capaz de deixar um estrangeiro em transe. Experimentei duas delas e gostei especialmente da Krainer Wurst, que não é alemã, mas eslovena. Os acompanhamentos, chucrute e salada de batata, eram saborosos e delicados. Como não bastasse, dali seguimos pra outro balcão, onde fomos ao encontro de um crocante Wiener Schnitzel.
Se a tarde se encerrasse às margens do Landwehr, bucólico canal paralelo ao rio Spree, convinha antes uma pausa pra tomar um café no Five Elephant Coffee, de onde não se pode sair sem experimentar uma fatia de seu cheesecake, que faz jus à fama que tem.
A flanar por Kreuzberg, era inevitável uma parada no Markthalle Neun, dos melhores programas a nos socorrer quando a fome nos alcançasse naquelas paragens. O mercado mantém o ambiente de galpão antigo, sem apelar pra manobras estéticas que lhe pudessem tirar a verdade em nome da modernidade. Às quintas-feiras acontece o festival de comida de rua, mas, como minha passagem pela capital alemã não calhou de coincidir com uma noite de quinta-feira, estive ali numa tarde no meio da semana, quando os corredores ficam pouco movimentados – o que não é mau pra alguém que, como eu, não seja afeito a multidões.
Comprei uma cerveja no bar e segui pra Kumpel & Keule, templo de carnes e embutidos, onde servem algumas das salsichas expostas na vitrine, além de um hambúrguer tão simples quanto gostoso: carne saborosa, folhas frescas, bacon defumado no próprio mercado. Quando os ingredientes são bons assim, não é preciso muito mais.
A atmosfera do mercado, em alguma medida, soou como uma síntese das impressões que Berlim deixou em mim: uma cidade que me transmitiu a sensação de raro equilíbrio entre memória e modernidade, artesanato e tecnologia, metrópole e cidade do interior. Só penso em voltar.
The Barn Coffee Roasters – Schönhauser Allee 8 / Também na Auguststraße 58
Zeit Für Brot – Alte Schönhauser Straße 4
KaDeWe – Tauentzienstraße 21-24
http://www.kadewe.de/en/home_english/
Five Elephant Coffee – Reichenberger Straße 101
Markthalle Neun – Eisenbahnstraße 42-43