Esse ano, decidi que meu presente à mãe pelo dia de ontem seria uma visita à Pousada da Alcobaça, que ela ainda não conhecia. Tinha certeza de que se sentiria em casa naquele lugar. Minha mãe viveu a infância em circunstâncias muito diferentes daquelas que, de modo geral, marcaram a infância da minha geração. Mesmo crescendo na cidade, seus primeiros anos de vida foram marcados por casas amplas, quintais e grande intimidade com as ruas. Foi no quintal de sua avó que ela começou a aprender o nome de cada planta, cada fruta. O avô aprofundava as lições nos passeios pelas ruas. Assim, os dois me deixaram de herança a melhor guia que tive pras coisas da natureza.
Não houve uma só vez em que estivesse na Alcobaça sem pensar nela. Sempre me prometia levá-la na próxima visita. Vejo em Dona Laura, dona da pousada, muito de minha bisavó e, consequentemente, muito de minha mãe. E tinha certeza de que naquela casa, naqueles jardins, a mãe identificaria tudo isso. Nesse último fim de semana, resolvi não mais adiar.
Fomos pra feijoada de sábado, que, como já disse aqui, é a melhor de que tenho notícia entre Rio de Janeiro e arredores. Comida fresca, colorida, saborosa. E, claro, servida num cenário ímpar, o que faz tudo ficar muito melhor. Depois da feijoada, uma fatia amarelíssima de quindim, pra selar a felicidade.
Então, seguimos pra explorar os jardins e, depois, a horta, esse o verdadeiro presente que queria dar a minha mãe. Estava certa. Alegria sem medida, ela solta ali naquele pedaço de terra. Lembrou-se da infância, dos avós. E foi me ensinando o nome de cada flor, adivinhando cada fruta, cada legume, só de olhar as folhas. Não havia um matinho que ela não traduzisse. Tanta informação que era difícil processar...
Naquele momento, o sentimento era de tremendo agradecimento por ter a mãe ainda por aqui e por poder aprender com ela. Mas senti também alguma vergonha de andar tão atualizada com o que se passa nas mesas do mundo e entender tão pouco do que é a comida antes de chegar ao meu prato, ser tão urbana e ter tão pouca intimidade com a terra. Saí dali com vontade de ter um quintal, um jardim, uma horta. E ir conjugar a vida em outro modo, em outro tempo...
Pousada da Alcobaça – Rua Agostinho Goulão 298 - Corrêas
http://www.pousadadaalcobaca.com.br/
As atualizações do blog também estão no meu twitter.