No início do ano, compartilhei aqui minhas primeiras impressões sobre o Irajá, o novo restaurante do chef Pedro de Artagão. O sentimento que dava o tom naquele momento era o de expectativa frustrada. Decidi que esperaria uns meses antes de voltar. Foi o que fiz. No último sábado, mais de seis meses depois, finalmente voltei. E tive uma experiência muito melhor que as anteriores. Não sei se simplesmente os pedidos desta vez foram mais bem sucedidos ou se, de fato, a casa passou por tamanho progresso e, finalmente, encontrou o tom. O que sei é que tive a sensação de estar diante de uma cozinha bastante mais afinada que a dos primeiros meses de vida do restaurante.
Começamos com os pães de queijo de tapioca, que me pareceram primos dos dadinhos de tapioca com queijo coalho que Rodrigo Oliveira consagrou no Mocotó. Muito gostosos.
O Irajá burger posso dizer que é um dos melhores exemplares que comi no Rio ultimamente: carne mal passada, um gostoso confit de cebola, ótimo pão, tostado, do jeito que eu gosto. As batatas fritas que acompanhavam – batatas de verdade, é importante dizer – seriam perfeitas se estivessem crocantes...
Mas o melhor do almoço ficou por conta do porco braseado com tropeirinho. Impecável. Carne macia, untuosa. O saboroso tropeiro, uma delicadeza, ganhava o frescor de ervas e gomos de laranja.
Um close que o prato merece...
A delicadeza que marcou o último prato não compareceu nas sobremesas. As porções eram grandes demais. O bolo de brigadeiro com creme inglês – que já havia provado nas outras visitas e tenho a impressão de que domina os pedidos de sobremesa – estava excessivamente doce. Tão doce que não conseguiríamos ir até o fim, ainda que fosse menor. A compensação ficou por conta do sundae: gostoso sorvete de caramelo, doce de leite quente, nacos de banana e crumble de nozes. Mas metade da porção seria o suficiente pra nos deixar satisfeitos...
Por fim, não podia deixar de observar que não foi só na sintonia da cozinha que percebi mudanças. Os preços também mudaram. Embora sinta dolorosamente no bolso os efeitos de comer fora com regularidade, dificilmente comento preços aqui. Primeiro porque não é esse meu foco. Depois, porque falar sobre a irrealidade das cifras que têm prevalecido nas mesas do eixo Rio-São Paulo é chover no molhado. A questão é que, à época da inauguração do Irajá, um dos motivos pelos quais o restaurante foi festejado eram os preços, mais baixos que a média na cidade. Mas a casa, em poucos meses, vem perdendo a vantagem inicial e se aproximando, a passos largos, dos números praticados por seus pares. Ainda que as entradas, por exemplo, continuem mais baratas que a média, num rápido exercício de comparação, constatei reajustes consideráveis em vários pratos. O que mais me assustou foi o famoso bolo de brigadeiro. No mês de abertura (dezembro passado), custou-me R$18,00. No mês seguinte, já era R$22,00. No último fim de semana, paguei por ele R$28,00. Por mais generosa que fosse a porção, algo me pareceu estar fora da ordem...
Irajá – Rua Conde de Irajá 109 – Botafogo
http://www.irajagastro.com.br/