Há alguns anos, seguindo o conceito tão em voga de “cozinha do terroir”, Yannick Alléno, chef do Le Meurice, criou no restaurante do hotel um menu que homenageia receitas e produtos característicos da Île de France, região onde Paris está situada. Batizou-o Terroir Parisien. Desde então, o trabalho de pesquisa de receitas e a parceria com produtores locais foram ganhando tal vulto que já não cabiam mais numa pequena sequência de pratos. Demandavam um restaurante inteiramente dedicado à ideia. Assim nasceu o novo bistrô de Alléno, inaugurado em março. Estive lá no primeiro dia de vida da casa, num almoço que, confesso, ficou aquém das minhas expectativas. Não posso ter a pretensão de dizer nada de definitivo sobre um restaurante em seu primeiro dia de serviço. Morasse eu em Paris, voltaria lá antes de emitir opinião. Já que isso não é possível, deixo aqui minhas impressões daquela refeição – nada além do retrato de um momento.
Começamos com o veau-chaud, uma espécie de versão parisiense do hot dog, feito com salsicha de tête de veau (cozida em caldo de legumes) e acompanhado de sauce gribiche (molho à base de ovos, azeite, mostarda, alcaparras, picles). Bem, aqui, entro numa questão de gosto, que é totalmente subjetiva: a salsicha de tête de veau não me agradou em textura, nem em sabor. E ainda acho que merecia o calor de uma chapa antes de ir ao pão.
Em seguida, compartilhamos algumas entradas. A sopa de cebola ganha cara nova nas mãos de Alléno: cebola, nacos de queijo empanado e tutano recebem, à mesa, o banho de um perfumado bouillon. Achei gostosa, mas devo confessar que a releitura não me fez tão feliz como me faz a boa e velha soupe à l’oignon.
Melhores estavam os cogumelos recheados com escargot, simplesmente deliciosos. Ou o atordoante embutido de focinho de porco, embora este seja mérito exclusivo de Gilles Verot, um dos mais famosos charcutiers de Paris, que assina a seleção de charcutaria da casa.
Elegi o boeuf sauce Bercy pro principal. A carne estava macia, saborosa. O problema era o acompanhamento: batatas supostamente feitas na casa, mas que ninguém me convenceu de que fossem diferentes da tal pasta congelada onipresente nas lojas de fast food – aquela que parece tudo menos batata. Não esperava topar com isso num restaurante que leva o nome de Alléno.
O melhor dos pratos, infelizmente, não era meu – mas me fez perder o pudor e pedir sociedade: o repolho recheado de carne de porco e pedacinhos de cenoura era tão bom, mas tão bom, que quase me fez esquecer a decepção com as batatas.
Entre as sobremesas, a tarte Saint-Honoré estava bem boa, mas longe dos melhores exemplares de Paris, como a da Pâtisserie des Rêves, minha favorita. Quanto ao pain perdu com sorvete de baunilha, o bricohe veio encharcado e me deixou saudades da versão do Ici Bistrô, do chef Benny Novak, que, além de ser melhor, está a apenas uma ponte aérea de distância.
Saí com a impressão de que se, em vez de estar flanando pelo salão, Yannick estivesse coordenando o que se passava na cozinha, as coisas teriam andado melhor naquele primeiro dia do restaurante...
Terroir Parisien – 20 rue Saint Victor – anexo à Maison de la Mutualité – 5ème
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