Elegi a Quinta do Vallado como pouso no fim de semana que passei no Vale do Douro. A quinta que pertenceu a Dona Antónia Adelaide Ferreira, a Ferreirinha, uma das poucas em posse de seus descendentes é, hoje, um dos cinco produtores integrantes da associação conhecida como Douro Boys.
A propriedade estonteante, emoldurada pelos socalcos do Baixo Corgo, abriga uma guesthouse no edifício histórico, de 1733, e um hotel boutique inaugurado em 2012, em cujo projeto o xisto é elemento essencial. Embora a fachada ocre do século XVIII me fale mais à alma, fiquei com o conforto tão século XXI dos quartos do novo hotel. A varanda aberta pra inesquecível paisagem, só ela, já teria valido a escolha.
Tudo ali evidencia bom gosto, sobriedade, elegância. O belo mobiliário – pudesse, teria trazido comigo todas as cadeiras e poltronas. A integração com o cenário e a inteligência de não pretender disputar com ele. As linhas da moderna adega, concluída no final de 2009. O serviço discreto – em muitos momentos, é quase possível esquecer que se está num hotel e sentir-se em casa. E mesmo detalhes menos perceptíveis, como o ar blasé com que nossa guia na visita à adega e às caves encarou o pedantismo de um americano, dono de loja de vinhos na Califórnia, que nos deu o desprazer de sua companhia.
Do lado de fora, a propriedade é um convite a longas caminhadas. Além dos quilômetros de vinhas, há oliveiras, laranjeiras e outras árvores frutíferas, de onde sai a matéria-prima pro azeite ali produzido e pras geleias servidas no bom café da manhã.
Tão fundamental quanto uma longa caminhada é reservar algum tempo pra se dedicar com afinco a nada fazer – de preferência, na companhia de um dos vinhos produzidos na quinta. Nada além de contemplar a força daquela paisagem que de modo tão peculiar alia a exuberância da natureza ao suor do homem. Agradecer ter olhos pra ver aquilo que o escritor duriense Miguel Torga tão bem definiu como um poema geológico.
Quinta do Vallado - http://www.quintadovallado.com/