Na Alsácia, como os alsacianos. Pra quem deseja conhecer a cultura gastronômica daquele pedaço de terra onde França e Alemanha se encontram, os winstubs são obrigatórios. Tão fundamentais no cenário local quanto os cafés parisienses, os diners nova-iorquinos ou os botecos cariocas.
No DNA desses estabelecimentos está a atmosfera de taberna e a cozinha voltada pro receituário tradicional da região. São lugares onde as pessoas buscam acomodar sua fome em pratos familiares. Os cardápios, arquitetados em torno de especialidades locais, são, em boa parte, um exercício de glorificação do porco – que é, de fato, das melhores coisas que se pode comer ali. Quem conhece minhas preferências poderia imaginar que passei alguns dias comendo carne de porco no café da manhã, no almoço e no jantar. Devo confessar que foi mais ou menos isso o que sucedeu...
LE CLOU
Um dos mais tradicionais winstubs de Estrasburgo, surpreendentemente, foi a mais fraca das minhas incursões.
A tarte à l’oignon era uma bobagem.
Muito melhor estava o bibeleskas, especialidade alsaciana que mistura queijo branco cremoso, pedacinhos de bacon, salsa e cebolinha e batatas sautées – estas, aliás, são onipresentes nos winstubs, acompanhando uma série de pratos; chegam meio bagunçadas, feias até, mas sempre gostosas. Aquela mistura me parecia melhor a cada colherada.
Enfim, a incontornável choucroute garnie: repolho fermentado acompanhado de salsichas e uma variedade de partes da anatomia suína. Combinação que adoro, mas que ali me pareceu deslizar no excesso de acidez do repolho.
ZUEM STRISSEL
Uma instituição em Estrasburgo, tido como o mais antigo winstub da cidade.
Experimentei a flammekueche, a tarte flambée alsaciana, que, segundo opinião de muitos, encontra naquele endereço uma de suas melhores versões. Massa finíssima – assada até as bordas ficarem crocantes como biscoito – coberta com crème fraîche, bacon e cebolas. Uma delícia.
Mas o que deixou a mesa em silêncio foi o soberbo jarret de porco braseado na cerveja, acompanhado de batatas sautées.
FINK’STUEBEL
Começamos com uma boa terrine de foie gras com gelée de Gewürztraminer e uma tarte à l’oignon que superava a que experimentei no Le Clou.
Como adverti no início do post, quando gosto de uma coisa, posso me tornar assustadoramente repetitiva. De modo que não resisti ao joelho de porco. Extremamente saboroso, pele crocante, um colosso. O acompanhamento era uma perfeita salada de batatas: depois de cozidas num bouillon, recebem o acréscimo de mostarda e cebolas, nada mais.
Pra encerrar, pera cozida no vin chaud, com sorvete da fruta e creme batido.
Uma boa sobremesa. Mas foi preciso recorrer ao caderninho pra me lembrar dela. Podia jurar que o que encerrou meu último jantar em Estrasburgo foi o infernal jambonneau. Minha memória tem lá seus caprichos e insiste em privilegiar o que lhe pareça especial.
Le Clou – 03 rue du Chaudron
Zuem Strissel – 05 Place de la Grande Boucherie
Fink’Stuebel – 26 rue Finkwiller