O bistrô de José Avillez em Lisboa é, sem dúvida, uma casa portuguesa. Chamo de bistrô pelo ambiente sem afetação, a cozinha direta e os preços praticados – os pratos mais caros não chegam a 20 euros. Falo de um bistrô moderno, que fique claro. A comida é tratada com simplicidade, no sentido de que não se veem muitos adereços a tirar a atenção do produto, mas são evidentes a sofisticação técnica e a abordagem atual. E embora haja na boa miscelânea do cardápio referências de outras paragens, o que brilha é o acento português, ainda que sejam novas as perspectivas.
As azeitonas galegas do couvert me distraíram a boca enquanto eu amadurecia as escolhas. Os petiscos e pequenas entradas me pareceram particularmente atraentes e neles acabei concentrando grande parte dos pedidos.
Comecei o percurso com as empadinhas de perdiz. Massa leve, recheio úmido, saboroso. Deliciosas.
Segui com a gostosa frigideira de farinheira em crosta de broa e os camarões à Bulhão Pato.
O melhor do jantar ainda estava por vir. Os soberbos fígados de galinha salteados com compota de cebola e Porto, em execução perfeita, eram uma manteiga. Daqueles pratos que dão sumiço às palavras. O silêncio se instalou por alguns momentos. Seguiram-se interjeições. Não se trata de apreço à retórica; as linhas que agora escrevo expressam exatamente o que se passou. A satisfação foi tanta que pedimos bis.
Estava bom o bacalhau com migas e ovo em baixa temperatura. O problema foi ter vindo depois dos fígados, que tornariam difícil o caminho de qualquer prato que lhes sucedesse...
Encerramos, enfim, com avelã em três variações: ótimo sorvete, espuma aveludada, ainda melhor, e uma chuva de avelã ralada pra finalizar. Saibam que a foto, definitivamente, não faz jus à sobremesa.
Saí com a certeza de que, morasse eu em Lisboa, a cozinha viva e descomplicada do Cantinho do Avillez me veria com frequência.
Cantinho do Avillez - Rua Duques de Bragança 7 – Chiado