Poucas coisas são mais prazerosas do que chegar a uma cidade pela primeira vez. O frescor da novidade, que se reproduz a cada esquina, é um combustível poderoso, aparentemente inesgotável. Nos dias que passei recentemente na Cidade do México, essa sensação me habitou até o último minuto da viagem. Tudo me parecia superlativo naquela mistura de poesia e caos.
Do ponto de vista da experiência gastronômica, igualmente havia muito de inédito pra mim. E mesmo o que era mais familiar mantinha o frescor do ineditismo, afinal, a cozinha mexicana, embora tão presente em nosso repertório, é das mais ultrajadas mundo afora. Antes de estar no México, poucas vezes tive contato com reproduções que me parecessem dotadas de alguma autenticidade. Portanto, nessa primeira visita, mesmo aquilo que não era exatamente novo tinha o viço da estreia.
As manhãs começavam sempre com uma xícara de café e una concha – às vezes duas. O pão leve, macio, de crosta açucarada se torou um vício. Encontrei bons exemplares na Pastelería Amado e na Bakers.
Nos corredores dos mercados (o de Coyoacán foi o que pude explorar com mais calma) tive oportunidade de ganhar intimidade com o universo de sabores que povoariam minhas refeições: das frutas, como mamey e granadilla, aos chiles, frescos e secos, passando por produtos como nopal e huitlacoche.
Nas calçadas, vivenciei o prazer da comida de rua, que ali se agiganta. Me encantaram os carrinhos de frutas, os irresistíveis cestos de churros e os incontornáveis tacos.
Diante da taquería Los Cocuyos, pé sujo que é a quintessência da comida callejera na Cidade do México, não havia como ignorar o cheiro do caldeirão onde imergiam praticamente todas as partes da anatomia bovina. Eu havia acabado de almoçar quando passei por ali, mas não pude resistir aos emblemáticos tacos de suadero.
Logo ao lado da Los Cocuyos, a taquería El Huequito, embora turística demais (e capaz de atrocidades como a versão de taco servido em pão pita no lugar da tortilla), me rendeu os melhores tacos al pastor daquela temporada. Da porção avantajada não restou sequer uma migalha.
O clássico, aliás, se revelou em deliciosa versão no casual e vibrante Contramar, cujo cardápio é inteiramente dedicado a peixes e frutos do mar. Além de uma saborosa porção de mexilhões com chipotle, minha refeição ali se resumiu aos tacos de pescado al pastor – muitos deles.
Entre os restaurantes mais ambiciosos, o Pujol, do chef Enrique Olvera, me assegurou um almoço inesquecível – mas isso é assunto que merece outro post.
Por fim, há que voltar aos churros, não só porque figuram entre minhas predileções, mas porque é preciso falar da Churrería El Moro, onde estive religiosamente todos os dias. A filial em Condesa, uma bela casa à beira do Parque México, foi minha última parada antes de me despedir da cidade e seguir pro aeroporto.
Era uma tarde luminosa de domingo e me detive ali por um bom tempo. Na companhia de seus indefectíveis churros (fritos na hora, chegaram às minhas mãos ainda quentes e crocantes), me deixei impregnar pela atmosfera do lugar. O som do bolero tomava o salão, as janelas descortinavam o vaivém das cadeiras de balanço espalhadas na calçada, onde gente de todas as idades celebrava a vida compartilhando aqueles pequenos bocados, num ritual aparentemente prosaico, mas tão fundamental. Naquele momento, não havia outro lugar onde eu desejasse estar.
Pastelería Amado – Campos Elíseos 204 (no lobby do hotel Hyatt Regency) – Polanco
Bakers – Miguel Angel de Quevedo 50 esq. Arenal – Chimalistac
Mercado de Coyoacán – Malintzin 19 – Coyoacán
Taquería Los Cocuyos - Calle de Bolívar 57 – Centro
El Huequito – Calle Bolívar 58 – Centro
Contramar – Durango 200 – Roma Norte
Pujol – Tennyson 133 - Polanco
Churrería El Moro – http://elmoro.mx/