Não são poucos os brasileiros que já me confessaram falta de interesse em conhecer as mesas de Portugal. Não sabem o que perdem. Preciso reconhecer que, de fato, o cenário da restauração em Lisboa é mais restrito, se compararmos a cidade com outras capitais europeias mais festejadas. Mentiria se dissesse que não é. O visitante não vai encontrar ali oferta que se assemelhe à profusão de bares de tapas memoráveis e restaurantes de excelência que tem a Espanha. Nem algo como a ampla gama de brilhantes neobistrôs e padarias e confeitarias superlativas que há na França. Mas, afinal, não fui buscar Espanha ou França em Portugal.
Do balanço dos oito dias dessa minha última visita ao país, poderia tirar uma amostra de bons motivos a salvar da descrença os pouco convictos. As cores, a luz, a poesia derramada e a capacidade de reinvenção de Lisboa, cidade pela qual me apaixonei novamente. Sim, cidades são como gente; jamais se revelam por inteiro, há sempre algo ainda por desvendar. E é nisso que reside a graça dos reencontros.
A beleza e a nostalgia que brotam em cada rua, em cada praça do Porto.
O exagero de natureza do Vale do Douro.
As boas mesas por onde andei, sobre as quais falarei aqui nos próximos dias. Lugares onde comi bem e quase sempre barato. Tão barato que não há como não pensar no quanto o Brasil anda ridiculamente caro.
Mas há mais que isso. Os brasileiros que, como eu, tenham sido criados na presença de tachos movidos por mãos portuguesas dificilmente passarão por aquele país sem se comover. A cada esquina, topamos ainda com referências desse Portugal de que nosso imaginário é impregnado desde criancinhas, pelo que diziam e faziam as avós, as bisavós. Eu, que levei minha mãe comigo nessa viagem, vivi isso com intensidade ao longo dos últimos dias. “Era assim mesmo que a minha avó fazia os carapaus”. “Era exatamente desse jeito que meu pai gostava do bacalhau.” “Olha o doce de tomate, igualzinho ao que preparava a vovó.” Foram oito dias ouvindo-a dizer coisas assim. E vislumbrando na comida a essencial conexão com a memória, com ainda mais força do que me havia acontecido na última visita ao país, anos atrás.
A embalar tudo isso, a acolhida de uma gente que não se encontra em outros cantos da Europa. Até hoje, jamais encontrei em outro povo no hemisfério norte o calor do povo português. Nem aquele irresistível jeito de falar, cheio de melodia e de diminutivos. “A menina quer provar uns carapauzinhos?” “Um queijinho de ovelha?” “Uns pastelinhos de bacalhau?” É absolutamente diferente de nos ofertarem uns carapaus, um queijo de ovelha, uns pastéis de bacalhau. Mas é preciso saber ouvir.
por: Alhos, Passas & Maçãs em 11-06-2013
Portugal, Constance, é um mistério para mim. Tive um só contato, no longínquo 1994, e meio traumático - nada com as comidas, mas a vida em si, que apareceu por lá bem desmistificada.
Bom ler seu texto: ajuda a reconciliação com essa terra que deve ser linda. Continue a desvendá-la, menina.
Beijos!
por: Constance em 11-06-2013
Lisboa é uma das cidades que mais me emocionam no mundo, Alhos. Bem, leve em conta que sou um bocado sentimental... Mas acho que vale a reconciliação.
por: Arthur em 11-06-2013
Cons, lindas fotos! To louco para let seus relatos para ver se tomo coragem para marcar a minha viagem de outubro! Bjs
por: Vanessa em 11-06-2013
Lindo texto!!deu-me saudades de Lisboa e Porto....era uma dessas ,que nao tinha muita vontade em conhecer Portugal,e voltei encantada de lá!!
por: Antonio Carlos em 11-06-2013
Não faz nem um, mês que voltamos e já estamos morrendo de saudades da "Terrinha". Quanto sabor!!!! Quanta gentileza daquela gente !!!Foi bom demais rever a terra de meus avós.
por: Merél em 12-06-2013
Mais uma vez, quanta sensibilidade! Vieram lágrimas aos olhos. Minha vontade de conhecer Portugal só aumenta. Parabéns pelo lindo texto.
por: Constance em 12-06-2013
Acho que você gostaria muito de Portugal e do jeito particular dos portugueses, Merél. No nosso próximo chopp, te conto mais da viagem que é pra te convencer a fazer logo as malas ; )
por: Maria das Graças em 15-06-2013
No Ceará, na minha infância, a culinária portuguesa era presença constante tanto nas principais refeições quanto na merenda. E foi uma grande surpresa e uma volta àqueles bons tempos quando em 2007, durante a nossa 1ª viagem à Portugal (25 dias do Porto à Lisboa pelo oeste), eu tive o prazer de reviver os sabores e cores da minha infância. Até os quintais das casas na sua simplicidade com os seus onipresentes pés de couve me fizeram voltar no tempo. E o povo português nos acolhe com tanto carinho e atenção...
Voltarei para descer o País pelo leste e novamente terminar por Lisboa.
por: Luca em 17-06-2013
O Portugal e Lisboa é um pais lindo e autenticos, e sempre gostei do lado "timido e gentil" dos portugueses. Muita curiosidade de conhecer o Norte e o Sul deste pais (so' visitei Lisboa e Sintra), entao vou ler com muito interesse os proximos post deste amado blog!
por: Emilia em 18-06-2013
Estive em Lisboa pela primeira vez em 94, e no Porto em 99. Voltei no ano passado à primeira e me encantei com a cidade, como se a estivesse vendo pela primeira vez. Me senti acolhida em cada canto e comi maravilhosamente em todas as refeições. Um país pequeno, mas imenso. Belo post.
por: Daniel Martinon em 30-07-2013
Olá Constance: fiquei bastante feliz de saber que afinal vc foi conhecer a terra de seus avós e deliciar com a gastronomia portuguesa.Morro de saudades do Porto, um lugar repleto de sabores, cores, poesia e boa gente.
por: Antonio Correa em 20-08-2013
Constance, parabéns pela descrição, é exatamente isso que encontramos na gastronomia portuguesa. Visitei o país três vezes nos últimos cinco anos e ainda estou com gosto de quero mais. Numa pequena tasquinha de Peso da Régua me farto até literalmente passar mal, e no dia seguinte não me arrependo !
por: Regina Alcoforado em 06-02-2014
Oi constance e Antônio Corrêa , me digam por favor informe dessa tasca em Peso da Régua pois estou indo ao Porto e Lisboa agora em marco/2014 e gostaria de lá. Obrigada.
por: Constance em 07-02-2014
Regina, não sei te dizer. O leitor Antonio mencionou a tasca, mas não disse o nome dela...
por: Gilda em 02-08-2014
Constance, senti a mesma emoção que tu sentiste ai visitar Portugal! Tbm levei a minha mãe, filha de portugueses. E aconteceu de nos lembrarmos das comidas, dos costumes e dos hábitos de meus avós. Tenho uma foto com esta vendedora de frutas na beira do Douro, igual à tua foto. Nos sentimos em casa cada vez que voltamos à Portugal!
por: Constance em 02-08-2014
Gilda, pra nós, brasileiros criados por avós e bisavós portuguesas, é mesmo difícil ir a Portugal sem se emocionar.