Há tempos eu me devia uma visita à outra casa de Alex Atala. Mas a demora talvez tenha tido lá suas vantagens... Cheguei já na fase pós-Poletto, depois de alguns equívocos contornados (inclusive nos preços), alguns ajustes feitos e, provavelmente, estive num restaurante melhor e mais bem resolvido do que, supostamente, teria sido o Dalva e Dito dos primeiros dias.
O projeto de Marcelo Rosenbaum não poderia ser mais bonito. Tanto o bar, no subsolo, como o salão principal e o terraço são de extremo bom gosto. Uma estética que transita entre o rústico e o sofisticado, sem abrir mão da brasilidade em momento algum. Seja nos objetos garimpados Brasil adentro, no painel de azulejos de Athos Bulcão, nas mesas e cadeiras em madeira robusta, no piso de ladrilho hidráulico, nas paredes cor de barro ou no céu de samambaias que cobre a varanda.
No cardápio, como não é novidade pra ninguém, mais brasilidade. Diferentes influências convergem nesse sentido, sejam as das receitas regionais, sejam as dos legados afetivos deixados por mães, avós, tias e tantas outras vidas dedicadas aos fogões. Do tropeirinho mineiro ao macarrão com feijão e lingüiça. Do açaí com banana, guaraná e tapioca ao pudim de leite. Um cardápio que desperta a vontade de voltar muitas vezes até ter uma amostra satisfatória do que se faz naquela cozinha. Mas eu só tinha uma tarde... Fiz o que pude.
O bom couvert traz pães, manteiga Aviação, belos dentes de alho assados e um trio de pimentas: o amarelo da fidalga, o verde da cumari e o vermelho da malagueta, num colorido inspirador.
Pra começar, fomos de pastéis de vatapá. A massa era a mais sequinha e crocante que experimentei nos últimos tempos. O recheio era saboroso, mas escasso.
Em seguida, pimentão vermelho assado, recheado com picanha na ponta da faca. Gostoso, embora faltasse sal à carne, que, aliás, me pareceu moída e não picada na ponta da faca...
Fiquei fã do formato de almoço executivo da casa. Um carrinho traz uma seleção com Saint Pierre crocante, filé mignon, “galeto de televisão” e pernil de porco. E não é preciso escolher. Pode-se provar de tudo um pouco. O ponto das carnes não tinha erro. O galeto, úmido. O mignon, avermelhado, macio, suculento. Mas (novamente) faltava sal a ambos. O acerto no sabor ficou por conta do pernil. Ao lado das carnes, um festival de acompanhamentos: arroz, farofa, couve, feijão (preto e roxinho) e soberbas batatas crocantes. Mais uma vez, faltava sal a quase tudo, embora estivesse tudo muito bem feito, em especial as batatas.
As sobremesas garantiram um desfecho sem senões. O perfumado creme de chocolate com priprioca tinha sabor equilibrado e textura perfeita. A cereja do bolo era o delicioso crocante de cacau cobrindo o creme. E o pudim de leite... Ah, o pudim de leite. Eu diria que minha vida é uma eterna busca por um exemplar que em algo se assemelhe ao da minha mãe. O do Dalva e Dito chegou lá. E, afinal, não era essa mesmo a intenção?
Dalva e Dito – Rua Padre João Manuel 1.115 – Cerqueira César – São Paulo
www.dalvaedito.com.br/
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