Nesse momento, eu queria estar em Belém, onde acontece, até domingo, a 10ª edição do Ver-o-Peso da cozinha paraense, festival idealizado pelo saudoso chef Paulo Martins. Nem sempre se pode estar onde se quer. Pra aplacar minimamente o desejo, estava eu revendo imagens da minha visita à cidade no ano passado quando me dei conta de que ficou adormecido meu post sobre o restaurante Lá em Casa. Entre uma viagem e outra, perdeu-se no baú do esquecimento. Podia jurar que havia publicado e só ontem me dei conta de que não. Falha que corrijo agora.
Não tive a felicidade de conhecer o Lá em Casa nos tempos de Paulo Martins. Mas está lá o legado do mestre, que encontra continuidade pelas mãos de suas filhas. Programa obrigatório numa viagem a Belém. Assim como não se pode conceber uma visita à capital paraense sem ir ao encontro do que anda criando Thiago Castanho, é impensável sair de lá sem conhecer a herança deixada pelo homem que convidou o Brasil a voltar os olhos pro Pará. Por seus passos, abriram-se os caminhos que permitem que jovens talentos como Thiago ocupem hoje o espaço que ocupam.
Conheci a casa já em seu novo endereço, dentro da Estação das Docas. A parte interna tem aquele ar de praça de alimentação de shopping. Portanto, o ideal é se acomodar na varanda e comer na companhia do rio Guamá.
Optei pelo que me pareceu recomendável pra quem vai ao restaurante pela primeira vez: o Menu Paraense, que propõe uma espécie de beabá da cozinha do Pará. Aviso logo: é preciso ir com a fome de um dia inteiro pra dar conta do recado. Especialmente se, antes, você ainda se permitir sucumbir a uma porção de bijus marajoaras. Dourados, deliciosos, jamais me saíram da memória. Confesso que, de tudo o que comi no Lá em Casa, foi o que mais me deixou saudade...
Juntamente com os bijus, aportou na mesa um molho de pimenta de cheiro com tucupi, que me acompanhou até o fim da refeição.
O menu se inicia com uma seleção de pequenas bocados. Salada de feijão mateiguinha de Santarém, que é uma beleza de feijão. Iscas e farofa de pirarucu (que estava um tom acima no sal). E o muçuã de botequim, que substitui a iguaria proibida: usa-se músculo bovino no lugar da carne de muçuã.
Em seguida, o pato no tucupi, devidamente acompanhado de uma bela farinha d’água, elemento fundamental na mesa paraense. Farinha naquelas paragens é coisa muito séria...
Enfim, a maniçoba, que traz as folhas de mandioca brava moídas e cozidas com charque, lombo, chouriço, paio, pé e rabo de porco. Prato feio, dono de uma estranheza ímpar. Longe de ser unanimidade, é manjar pra poucos paladares. Particularmente, gosto muito, desde a primeira vez em que experimentei – longe, muito longe de Belém. Fez ainda mais sentido pra mim, ali, às margens do Guamá.
O percurso se encerrou com um bom sorvete de cupuaçu. Àquela altura, o bom senso já me mandava parar. Mas ainda busquei forças pra seguir até a Sorveteria Cairu, providencialmente instalada ao lado do restaurante. Precisava fechar a noite com a delicadeza e o frescor de um sorvete de bacuri (fruta que me encanta imensamente mais que o cupuaçu). E o da Cairu, pra mim, é sem igual.
Lá em Casa – Estação das Docas – Galpão 02 – Loja 04
http://www.laemcasa.com/
As atualizações do blog também estão no meu twitter.