Desde minha última visita ao DOM, tinha curiosidade de experimentar o Menu do Reino Vegetal, criado por Alex Atala há alguns anos. Pra mim, um menu cujo grande mérito está em tratar mandioca, batata baroa, palmito pupunha com a mesma deferência que naturalmente se dispensa a ostras, patos ou codornas.
Gostei mais de certas coisas, menos de outras, mas, de modo geral, o que vi foi um percurso por pratos sutis, arquitetados em torno de poucos elementos. Sem excessos, nada fora de lugar.
De amuse bouche, soberbo mil-folhas de mandioca sobre catupiry, acompanhado de espumante com licor de jabuticaba.
Iniciando o menu, o gel de tomates verdes com brotos e flores é um prato de incontestável beleza. Mas me pareceu mais bonito do que bom.
O arroz negro tostado com legumes verdes e leite de castanha do Pará, um belo prato em todos os aspectos: o sabor, a textura do arroz, a crocância dos vegetais, todos em ponto perfeito.
Em seguida, a delicadeza do fettuccine de pupunha em manteiga e sálvia, com abobrinhas e uma deliciosa farofa de pipoca – havia lido algumas vezes que se trata de canjiquinha frita e processada, mas o garçom me garantiu ser piruá processado...
O champignon de Paris vinha tostado por fora, mantendo-se cru o interior. Ainda melhor que o cogumelo era a mandioquinha defumada que o acompanhava, que já tinha me marcado quando a experimentei no prato em que coadjuvava - coadjuvava? - uma bela raia.
Enfim, aquele que talvez seja o melhor dos pratos do menu: batata doce com um béarnaise de chimarrão que, além de surpreendente, é absurdamente bom. Já havia experimentado o prato em outra ocasião, mas confesso que ainda não tinha me causado o que causou neste último almoço.
Após o habitual aligot, os famosos raviólis gelatinosos de limão e banana ouro com caramelo de priprioca. Leveza e frescor numa bela sobremesa. Lamentei não haver mais alguns pares deles...
O derradeiro ato foi uma revisita: bolinho de castanha do Pará, sorvete de whisky, calda de chocolate e curry. O bolo não era tão bom como no último encontro. Inexpressivo, pra ser exata. Já o excelente sorvete me pareceu ainda melhor do que me indicava a memória.
Uma refeição sem senões, como, afinal, costumam ser sempre as refeições ali, se falamos do ponto de vista do conceito e da execução. Mas, novamente, uma refeição que me soou mais linear do que eu gostaria que fosse. Poucos momentos de verdadeiro entusiasmo.
Contrariando o que parece ser a opinião geral, confesso que jamais tive no DOM a sensação de estar diante do melhor restaurante do Brasil. O que não abala, nem por um segundo, minha certeza de que é um grande restaurante. Mais que isso: um restaurante fundamental no quadro da evolução da moderna cozinha brasileira.
DOM - Rua Barão de Capanema 549 - Jardins
http://www.domrestaurante.com.br/