Nos meses que antecederam minha última visita a Portugal, ouvi de muitas pessoas uma mesma recomendação: ”Se vai ao Porto, não deixe de visitar a Casa Aleixo”. Endereço tradicional, o restaurante aborda os sabores da terra de forma simples, franca, sem rodeios. O enxuto cardápio não deixa dúvida quanto a isso.
O salão é agradável e acolhedor; o serviço, simpático. Fomos atendidas pelo próprio dono da casa. Falante que só, trocou conosco uns bons dedos de prosa. Foi divertido ouvir sua opinião a respeito de alguns restaurantes de comida "portuguesa" que são sucesso de público e crítica no Brasil. Arrancou-me boas risadas.
Começamos com bolinhos de bacalhau com salada de feijão frade. Bons, os bolinhos. Massa delicada, embora não muito saborosa. A estrela foi mesmo o feijão: cocção perfeita e tempero equilibrado, que enriquecia a salada sem mascarar seu sabor.
Em seguida, deliciosa alheira grelhada, pedido certeiro naquela região. Gosto tanto do enchido que, qualquer que seja o cardápio em que figure, é sempre difícil resistir.
Para o principal, escolhemos o lombo de porco assado com castanhas. As batatas que acompanhavam estavam muito gostosas, mas tanto a carne como as castanhas podiam estar mais macias. Enfim, não era o forte da casa e se eu não sabia disso era por pura incompetência. Soube depois que sua especialidade é o arroz de polvo e que os iniciados nem consideram pedir outra coisa ali. Eu que durma com essa.
Com a sobremesa, a refeição reencontrou o tom. Uma soberba fatia de pudim Abade de Priscos iluminou nossos rostos – aquela luz que antecede momentos de revelação. Já tinha experimentado o doce em algumas ocasiões, mas nada se comparava ao exemplar que tinha, então, em minha mesa. De consistência perfeita, na boca era um veludo. O brilho da espessa calda denunciava a precisão de mãos experientes.
Embora mais de dois meses nos distanciem daquela tarde, não há uma só vez que eu encontre a mãe (minha companheira naquele almoço) e não falemos no tal pudim.
Casa Aleixo - Rua da Estação 216 - Porto