Meu primeiro contato com o trabalho de Enrique Olvera aconteceu no Cosme, em Nova Iorque, há quase quatro anos, logo após sua inauguração. Na época, eu ainda não conhecia o México, mas tive a impressão de pela primeira vez travar um contato verdadeiro com a cozinha do país. Ainda que não se tratasse de reproduções fiéis de um receituário tradicional, minha refeição no Cosme foi algo completamente diferente de experiências menos autênticas vivenciadas antes.
No final do ano passado, em minha primeira ida ao México, reencontrei a cozinha de Enrique Olvera. Meu almoço no Pujol, o mais emblemático dos restaurantes do chef mexicano, foi um dos pontos altos da viagem e me rendeu uma das mais memoráveis refeições em minha curta temporada no país.
Embora seja um restaurante absolutamente diferente do nova-iorquino Cosme, a sensação que me provocou o Pujol foi semelhante à que vivenciei no primeiro. Um menu de seis cursos me levou a um México a um só tempo tradicional e moderno, sem flertar com estereótipos, nem sucumbir a arroubos de invencionice.
Dos elotes com maionese de formigas chicatanas ao polvo com óleo de habanero e purê de ayocote (tipo de feijão); da infladita de lagosta com queijo, feijões e chorizo ao soberbo pato em recado negro (pasta de chiles queimados com especiarias, típica de Yucatan), não havia um único elemento que estivesse ali em vão.
O prato que concluiu a etapa salgada da refeição, onde o mole madre, então com 1468 dias, de sabor redondo, maduro, dialogava com o mole novo, mais picante, algo defumado, na companhia de tortillas de hoja santa (planta nativa usada em tamales e várias outras preparações), é das coisas mais deliciosas que me recordo de ter comido nos últimos anos.
Depois disso, eu não precisava de sobremesas, mas houve o bem-vindo frescor da granada com chile, abrindo caminho pro tamal de maçã, que seria responsável por um anticlímax, não fosse seguido por fabulosos churros – finos, crocantes, mais delicados, mas tão gotosos quanto os melhores exemplares que comi pelas ruas da cidade.
O menu degustação no Pujol me proporcionou um desses raros momentos em que quase me sinto convencida de que a fórmula não se esgotou, de que é possível através dela sermos levados a algum lugar onde ainda não estivemos.
Pujol – Tennyson 133, Polanco –C idade do México