Chocolate Todo Dia: a deliciosa viagem de Heloísa Bacellar pelo universo do chocolate

Julho 2010

Mês passado voltei de São Paulo me lamentando por não ter podido ir conhecer o Lá da Venda, o armazém com ar de antiguinho onde Heloísa Bacellar vende desde travessas e toalhas de mesa a pães de queijo e bolos mil e serve comida caseira das melhores. Antes mesmo que eu encerrasse minhas lamentações, eis que me chega pelo correio o livro que Heloísa acaba de lançar: “Chocolate Todo Dia”. Adoro receber surpresas pelo correio. E surpresas tão boas como essa não é todo dia que acontecem...

Não se trata propriamente de um livro técnico. É, na verdade, um livro sentimental. Com jeitão dos lindos livros antigos de receitas, seja pelo material das folhas, o acabamento, seja pela magia das fotos do craque Rômulo Fialdini...

E me fez lembrar o meu primeiro livro sobre chocolate, ”La Magie du Chocolat”, que me veio pelas mãos da minha mãe. Como, aliás, quase tudo que se relacionasse à cozinha, na minha primeira metade de vida, me vinha pelas mãos da minha mãe. Era um livro inteirinho em francês e eu não falava nem “bonjour” naquele tempo. Ali nasceu em mim o desejo de aprender a língua. Mas, confesso que, muito antes de tomar essa providência, de alguma forma, eu já decifrava o que estava naquelas páginas - não me peçam pra explicar. Penso que é esse um dos papéis dos pais, dos avós ou de qualquer querido que lhes faça as vezes: despertar em nós a vontade de entender das coisas do mundo. Cada um faz isso pelo seu viés. O do meu pai era a música; o da minha mãe a cozinha. Cada um foi responsável por fazer brotar em mim uma das minhas duas grandes paixões na vida. Não sou “letrada” em nenhuma das duas artes; minha forma de entendê-las é senti-las. Foi como aprendi em casa. Não sei se foi a melhor maneira, mas, enfim, é a maneira que conheço...

Mas, de lado as divagações, de volta ao livro de Heloísa Bacellar. Aliás, talvez essas divagações tenham um porquê... No fundo, a autora age sobre o leitor com o mesmo carinho de uma mãe ou uma avó que convida o filho ou o neto prum pedacinho de bolo de chocolate recém-saído do forno. É ela mesma quem diz: “Queria um livro carinhoso e acolhedor; (...) queria receitas com cara de casa, para o dia a dia, ou um pouco mais incrementadas, para servir aos amigos, que fossem gostosas, bonitas, mas despretensiosas, sem a sofisticação das confeitarias e dos restaurantes chiquérrimos”. E cunha a máxima, que, pra mim, traduz seu trabalho; mais que isso, sua alma: “Casa com bolo é sempre melhor, é casa de verdade, cheia de vida e de sentimentos”.

É esse o espírito do livro: um convite a uma viagem afetiva pelo universo do chocolate. Afetiva, mais do que técnica. Por isso mesmo, Heloísa, ao passo em que discorre sobre os melhores chocolatiers de Paris, fala de Chokito, Prestígio e Sonho de Valsa. Isso pode não fazer parte dos anais de uma escola especializada, mas faz parte da vida de qualquer chocólatra sofisticado que tenha sido... criança. E os sabores da infância, as memórias afetivas, são tão relevantes quanto tudo o que aprendemos com a maturidade. Heloísa sabe bem disso. E conta como ninguém nas páginas de sua nova obra, seja através de suas estórias, seja através de suas receitas, batizadas e descritas de forma encantadora. Quem se entregar a ele haverá de concordar comigo.


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