Padaria da Esquina, a nova casa de Vitor Sobral em São Paulo: minhas impressões

Novembro 2016

Padaria da Esquina

Não posso dizer que tenha gostado de tudo na Padaria da Esquina, novo empreendimento do chef português Vitor Sobral em São Paulo. Serviço de manobrista na entrada? Prateleiras repletas de cápsulas de café? São exemplos de coisas que eu não esperava encontrar numa padaria. Quanto ao que experimentei nas duas visitas que fiz, também nem tudo me agradou. As empadas, por exemplo, tinham massa pesada e recheio seco. O pudim Abade de Priscos era inexpressivo, em nada lembrava os bons exemplares que já comi em Portugal. Mas falemos daquilo de que gostei, do que me faria – provavelmente fará – voltar.

Há delicados bolos de arroz, deliciosos pastéis de nata.

Padaria da Esquina

Padaria da Esquina

E há, claro, os pães. A casa de Sobral não resistiria a uma comparação com o trabalho de uma nova geração de padeiros que nos têm brindado com sourdoughs exuberantes. Quem conhece a produção de Flavia Maculan, em São Paulo, ou da Slow Bakery, no Rio, sabe do que estou falando. A questão é que não creio que a Padaria da Esquina queira disputar esse lugar. Seu papel me parece outro: o de dar novo fôlego a pães menos complexos, mais rústicos, cascudos, clássicos do repertório português. Pães que ocupam um lugar no acervo afetivo de alguém que, como eu, cresceu numa cidade de forte herança lusitana e teve a infância embalada por avós e bisavós portugueses. Nesse sentido, o trabalho de Sobral talvez não tenha muitos rivais. Mesmo no Rio de Janeiro, onde há padarias e confeitarias centenárias, poucas ostentam fornadas dignas de nota.

Padaria da Esquina

O pão de caco (feito com batata doce) na chapa, com manteiga ou requeijão, ocupa o lugar desses pequenos prazeres cotidianos que às vezes se perdem em nossa incessante busca pelo extraordinário. Me remeteu ao tipo de pão que meu avô gostava de ter à mesa, acompanhando suas refeições.

Já o gostoso pão de Deus, com sua crosta de coco e açúcar, me fez lembrar a alegria com que minha mãe fala de seus tempos de criança, quando esperava ansiosa pela cesta com pãezinhos de coco, entregue semanalmente à sua porta. 

Padaria da Esquina

Padaria da Esquina

Nossos melhores padeiros de hoje, ainda que mereçam todos os elogios, talvez não me possam proporcionar o prazer específico de que falo aqui. Pelo simples fato de que seus sourdoughs exuberantes não estiveram presentes na minha infância; são muito recentes em minha história. Portanto, não poderiam povoar essa memória a cujo conforto necessitamos recorrer em certos momentos – em geral, quando o caminho se torna acidentado e é preciso usar a imaginação pra tornar a jornada mais leve.

 

Padaria da Esquina – Alameda Campinas 1630

http://padariadaesquina.com/

por: Júlio em 30-11-2016
Constance,
totalmente de acordo.
Os pães são ótimos para o dia-a-dia e pela variedade. Mas não se comparam aos da Flávia (não conheço ainda a Slow Bakery). No resto, a Padaria da Esquina infelizmente falha muito.
Beijo.
por: José em 09-12-2016
Pães excelentes. EXCEÇÃO: a quantidade absolutamente insuportável ao paladar de açúcar no pão de ló. Em Portugal, tanto o pão de ló de Margaride, bem como os de Ovar e Alfeizerão não contam com essa excessiva quantidade de açúcar. Surpreendente, pois Vítor Sobral é um dos maiores chefs do mundo. Incompreensível, ainda mais que é muito difícil encontrar pão de ló em São Paulo. Havia o da extinta padaria Sagres , ao estilo de Margaride. Delicioso e com muito , mas muito menos açúcar que o da Padaria da Esquina. Lamento insistir, mas Sobral precisa dar um jeito no pão de ló. A padaria é muito boa e também a vejo como uma "embaixada" dos excelentes pães portugueses no Brasil.Por ser uma "embaixada", não pode de maneira nenhuma, oferecer esse pão de ló.
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