Epice: um ano depois

Agosto 2012

Epice Alberto Landgraf

Evito reler textos que tenha escrito há mais de seis meses. Muitas vezes, já não me reconheço neles; em tantas outras, tenho a impressão de não ter expressado adequadamente o que queria dizer naquele momento. É quase torturante. Portanto, evito. Mas, há alguns dias, saindo de um almoço no Epice, não resisti à curiosidade de retomar minhas impressões na última visita, que aconteceu exatamente um ano antes. Na época, a casa tinha poucos meses de vida e eu não conhecia pessoalmente o chef Alberto Landgraf. Hoje eu diria que, depois de doze meses, algumas conversas com o chef e uma nova visita, sinto que as primeiras linhas que esbocei sobre o restaurante faziam sentido. Ao menos pra mim.

Deixei o Epice, após esse último almoço, com uma sensação muito semelhante à que me tomou na primeira vez: a de estar diante de um trabalho em flagrante evolução, comandado por um chef de grande talento e rara sobriedade. Um cozinheiro que sabe o que quer e sua a camisa diariamente pra não perder o foco. Pedra sobre pedra, Alberto vai construindo um caminho consistente, em constante amadurecimento. Posso dizer que estive num restaurante ainda melhor do que o que me recebeu um ano antes. E, mesmo assim, provavelmente inferior àquele que encontrarei nos próximos doze meses.

Quanto ao almoço, comecemos pelo começo. Os pães do couvert riam de mim. Ousei dizer, na última visita, que não eram tudo o que poderiam ser. Pois trataram de ser. Consideravelmente melhores, desta vez só não os comi todos porque não estava sozinha à mesa.

Epice Alberto Landgraf

O primeiro prato aquietou um desejo que me acompanhava há algum tempo. Finalmente, o encontro com a famosa orelha de porco da casa. Crocantíssima, saborosíssima – sim, todos os superlativos se justificam aqui. Coadjuvando, tiras de couve manteiga – quase um biscoito – e gotas de mostarda.

Epice Alberto Landgraf

Por alguns minutos, acreditei que aquele seria o melhor prato do almoço. A crença foi quebrada pelo prato seguinte: mandioca, ovo de codorna pochê, avelã, molho de Jerez. Sublime. Seguiu invicto até o fim da refeição.

Epice Alberto Landgraf

Na sequência, um poético jardim de vegetais, cada um deles em sua máxima expressão de sabor.

E

A garoupa confitada veio acompanhada de picles de cebola roxa que eram tão bons, tão bons que roubaram a cena – e, junto, minha atenção: devorei-os antes de me lembrar de fotografar.

Enfim, músculo de wagyu com tutano sauté e alcachofras grelhadas. Apesar da qualidade da carne e da execução impecável, confesso que, pra mim, foram as alcachofras as estrelas do prato.

Epice Alberto Landgraf

A primeira sobremesa era pura delicadeza. Morangos, sorbet de morango, placas de merengue, pistache, pó de tomilho-limão. Leve, fresca, uma delícia.

Epice Alberto Landgraf

Na última sobremesa, engatei uma conversa com o chef e, quando me dei conta, novamente era tarde pra fotografar. Chocolate AMMA de diferentes teores de cacau (45, 50 e 75%) trabalhado em diferentes texturas: sorbet de chocolate, mousse desidratada e ganache congelada salpicada com sal Maldon – esta última, minha favorita. Gostei, mas gostei ainda mais da anterior. E confesso que a “Pera”, que encerrou minha refeição um ano antes, segue como franca favorita.

Ao fim do almoço, eu e o amigo que compartilhou a mesa comigo nos perguntávamos se daqui a cinco anos encontraremos o Epice exatamente como o restaurante que é hoje. Landgraf garante que, no que depender dele, a casa continuará sendo o que é. Nem diferente, nem maior, apenas melhor – esta, claramente, uma obsessão na vida do chef. Assim seja.

 

Epice – Rua Haddock Lobo 1002 – Jardins
http:/www.epicerestaurante.com.br/

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